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O dia em que Lavras parou para ver e ouvir Raul Seixas

Texto: Marco Aurélio Bissoli | Fotos: Lu Vilela

Você leitor, talvez não saiba, mas Raul Seixas caminhou sobre as ruas de Lavras. Sim, meu caro, o maior ídolo do rock tupiniquim pisou o chão da Terra dos Ipês e das Escolas. O motivo? Um show. Foi numa noite do distante ano de 1977 que Rauzito subiu no palco montado no campo de futebol da Associação Olímpica de Lavras. Ele chegava para encerrar um festival de música na cidade.

O mais precioso registro desse momento – emaranhado por lendas nunca comprovadas, sem dúvida, foi descoberto pelo músico lavrense Chible Haddad. Foi graças a ele que as únicas imagens inéditas de Raul Seixas em solo lavrense vieram à tona em 2010. “Essas fotos ficaram esquecidas por 33 anos numa gaveta na cidade de Oliveira (MG), quando as encontrei. Muitas pessoas preferiam, por motivo que desconheço, não falar sobre o show até hoje”, afirma Chible. Segundo relato do baixista e vocalista da banda Sua Mãe, a apresentação de Rauzito teria ocorrido de graça, visto que o cachê, supostamente, nunca teria sido pago pelo organizador do evento, na época. Chible conta que o portão do estádio, a pedido de Rauzito, teria sido aberto para que o público, que não havia pago pelo ingresso, pudesse assistir ao show. O fato, no entanto, nunca pôde ser comprovado.

Testemunhas

Mas, 46 anos após esse show histórico na cidade, mesmo com tantas especulações e raras lembranças, a história para em pé. Testemunhas ouvidas pela reportagem afirmam que Raul Seixas chegou a Lavras horas depois do horário marcado para o show naquele finado ano de 1977. Com 18 anos na época, um lavrense, que preferiu não se identificar, estava no estádio da Olímpica naquele show, onde o artista apresentava canções de seu quinto álbum, “Há 10 mil anos atrás”, lançado no ano anterior.Foi do alto da arquibancada que nossa testemunha ouviu Raul Seixas fazer piada com um dos seus versos mais famosos. Ao invés do famoso “Quem não tem colírio usa óculos escuro”, letra da canção “Como vovó já dizia”, parceria clássica dele com Paulo Coelho, o artista optara por um atrevido: “Quem não tem pinico, vai ali atrás do muro”.


Naquela noite histórica de 1977, Raul Seixas, o maior ídolo do rock brasileiro, encantou Lavras com um show lendário, cheio de piadas atrevidas, momentos inesquecíveis e uma presença que ainda vive na memória de muitos lavrenses.

Já era começo da madrugada quando o artista baiano chegou ao estádio da Olímpica, após deixar o Hotel Pinguim, onde estivera hospedado. Raul Seixas tinha na mão uma garrafa de vinho e muitas ideias na cabeça naquela ocasião. Outra testemunha ocular desse momento, o empresário e ex-radialista da Rádio Cultura de Lavras, Carlos Alberto Freitas de Mesquita, o “Galo” (Minerva Vida), que na época entrevistou o roqueiro numa coletiva de imprensa improvisada atrás do palco, fala com alegria daquele momento. É ele, aliás, quem aparece ao lado de Rauzito, junto do artista plástico lavrense Zé Rita, numa das imagens que ilustram essa reportagem, as mesmas encontradas por Chible.

Raul Seixas conversando
O empresário e ex-radialista da Rádio Cultura, Carlos Alberto Mesquita, o “Galo” (de óculos), durante sua entrevista com o cantor e compositor baiano em Lavras.

De A a Z

Para “Galo”, então apresentador do programa de rádio “Tenda do Som” e autor da coluna musical de mesmo nome no extinto jornal “Tribuna de Lavras”, foi um momento único estar diante do ídolo. Se a fita K7 com o bate-papo dele com o artista se perdeu (trinta minutinhos de conversa que valeriam por toda uma eternidade!), ficou na memória de “Galo” uma resposta dada por Rauzito a uma repórter presente na coletiva de imprensa. “Raul, hoje você é um artista classe A. Como é isso para você”?, indagava a jovem repórter. “Minha filha, não tem artista mais classe Z do que artista classe A”, responderia um afiado Raul Seixas.

Quando o show terminou, Rauzito pularia no mesmo Opala para pegar a estrada, mas um dos pneus do veículo caiu numa vala no campo da Olímpica.
Ovacionado pela multidão que cercava o carro, o artista botou a cara para fora da janela e pediu que todos ajudassem a tirar o veículo daquela situação, o que foi prontamente atendido. A poeira deixada por Raul Seixas, no entanto, permanece na memória de muitos.

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