Delegada Ana Paula explica como agem e o que fazer para não ser vítima dos estelionatários.
O roteiro quase sempre é o mesmo. Em redes sociais, como Facebook e Instagram, ou sites de relacionamentos, os estelionatários escolhem suas vítimas. Entre declarações de amor e juras de paixão eterna, ganham delas a confiança e o coração. Pronto! Está aberto o caminho para o golpe. “As vítimas são levadas a acreditar em perfis falsos e após ganhar certa intimidade passam a trocar mensagens pelo WhatsApp, Messenger, e-mails e até por telefone”, explica a delegada lavrense Ana Paula Arruda, ressaltando que o namoro virtual costuma durar algum tempo antes do início dos pedidos. Ela conta que muitas vezes o autor do delito solicita dinheiro, sob o pretexto de estar necessitando urgentemente do favor financeiro.
“O estelionatário cria uma relação de confiança, afeto e envolvimento num relacionamento que parece perfeito, mas todas as atitudes são simuladas. No momento em que a vítima já está apaixonada e iludida, ele passa a solicitar dinheiro para ela, que acredita que será ressarcida dos “empréstimos”, sem que nunca haja uma devolução desses valores”, destaca Ana Paula.
Nessas relações nada é verdadeiro. Nomes, cidades, contas, telefones… Tudo é falso e usado para dificultar o rastreamento dos criminosos.
“Em alguns casos, os estelionatários dizem ser estrangeiros, envolvidos em alguma missão de paz ou guerra. Para obter a vantagem, entre as juras de amor, o autor do fato relata problemas pelos quais está passando, como um parente doente, falta de dinheiro para se alimentar ou voltar para casa, e a vítima, iludida e apaixonada, envia altas quantias em dinheiro para o golpista”, revela a delegada lavrense.
Com o isolamento social decorrente da pandemia, mais e mais pessoas se sentiram sozinhas ou com dificuldades de iniciar relacionamentos de forma pessoal. Em casa, carentes e vulneráveis, passaram a acessar mais a internet, o que aumentou consideravelmente o campo para a atuação desses criminosos.
“Estima-se que 75% dos brasileiros acessem a internet, ou seja, 134 milhões de pessoas que transformam a rede em uma porta aberta para a prática de atividades criminosas”, enfatiza Ana Paula.
As vítimas do chamado “golpe do amor”, na maioria das vezes, são mulheres que buscam relacionamento amoroso nas redes sociais ou homens idosos. Para evitar ser uma delas, a delegada orienta atenção antes de qualquer envolvimento maior.
“A internet é uma realidade, por isso é natural que seja um meio de conhecer pessoas e iniciar relacionamentos, entretanto, é preciso ter cuidado. O ideal é marcar encontros pessoais, de preferência em locais públicos, e certificar-se de que a pessoa realmente é quem ela diz ser. Buscar conhecer mais da vida da pessoa, certificar sobre seu local de trabalho e também sobre a existência de amigos e parentes. E também desconfie se o seu ‘amor virtual’ pedir altas quantias em dinheiro emprestadas, independente da história contada”, aconselha a delegada.
A atual legislação penal não trata especificamente o ‘estelionato sentimental’, mas considera crime, inclusive com pena mais dura, os casos nos quais a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento. Ana Paula recomenda que, ao perceber que foi vítima de golpe, a pessoa não apague as conversas realizadas com o possível criminoso.
“Tire cópia de todas as conversas e comprovantes de depósitos ou transferências bancárias realizadas, com os dados das contas. Procure a delegacia mais próxima, registre a ocorrência e solicite providências criminais. É importante que a vítima entre em contato com o gerente do banco em que mantém conta e verifique se é possível bloquear o valor enviado na conta que foi beneficiada. Essa medida pode contribuir para identificar o golpista responsável e recuperar o valor perdido”, diz. “Importante destacar que noticiar o fato às autoridades é muito importante, pois, além de possibilitar um eventual e futuro ressarcimento dos prejuízos sofridos, pode evitar que novas pessoas sejam vítimas de golpe”, completa a delegada.