Casa da família do lavrense Paulo Oliveira Alves, o Paulinho Piano, guarda instrumento que pode ter pertencido ao compositor brasileiro Antonio Carlos Gomes
Quem poderia imaginar que Lavras possivelmente guardaria parte do passado de um dos brasileiros mais importantes de todos os tempos, o compositor Antonio Carlos Gomes (1836-1896)? Fabricado pela empresa francesa Pleyel, o piano, datado de 1887, que pode ter pertencido ao autor da ópera “O Guarani”, é hoje parte do acervo da família do lavrense Paulo Oliveira Alves, o Paulinho Piano (in memoriam).
A descoberta recente surgiu por acaso, dando início à uma linda história vivida pelo restaurador e afinador de pianos Fábio Marinho Alves. Uma narrativa que o reconecta com seu próprio passado. Ele afirma que o piano pertencia ao Instituto Presbiterano Gammon e foi doado ao seu pai, Paulinho Piano, em forma de pagamento por serviços prestados à instituição na década de 1970. Nos anos seguintes, o pai conseguiu restaurar o instrumento.
“Este piano ficou durante muito tempo atrás do palco do Teatro Lane Morton. Meu pai adorava o compositor Franz Liszt (1811-1886), que só tocava com pianos da marca Pleyel. Por esse motivo, ele escolheu aquele piano. Eu me lembro de irmos buscar o instrumento na época”, conta Fábio.
A pesquisa
A descoberta da origem do instrumento foi feita por intermédio do pesquisador gaúcho Yuri Covalesky, bacharel em piano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ele havia adquirido um piano da marca Pleyel, que pertenceu a um outro lavrense, sendo que Fábio Marinho Alves foi o responsável por embalar o mesmo para envio à cidade do comprador.
Ao saber que a família de Paulinho Piano tinha outro piano da mesma marca, o pesquisador pediu informações sobre o modelo e, com o número de série em mãos, iniciou uma ampla pesquisa, no site da fábrica da empresa Pleyel, a respeito do instrumento recém-descoberto. O trabalho resultou em um estudo.Segundo o documento elaborado por Yuri Covalesky, o piano nº 93.871 teve sua fabricação iniciada em 2 de novembro de 1887, sendo “comprado em 29 de dezembro do mesmo ano por “Ant. Gomes [símbolos ilegíveis]” do “Rio” [de Janeiro]”.
Além de apontar aspectos técnicos específicos, a pesquisa mostra que o instrumento foi fabricado em tempo recorde, sendo também um lote único. Outro ponto mostra que o comprador preferiu fazer sua compra diretamente na fábrica, ao invés de optar por lojas importadoras no Brasil.
Vale ressaltar que a fábrica Pleyel entrou para a história como uma das mais influentes do mundo pela sua íntima relação com grandes nomes da música, como Frederic Chopin, Camille Saint-Säens, Alfred Cortot, para citar somente alguns.
“Por fim, observa-se nitidamente tratar-se de um instrumento musical cujos princípios estruturais e sonoros são bem distintos daqueles cultivados pelos fabricantes modernos. Seu forte é justamente a delicadeza e a sutileza sonora, assim como a riqueza de timbre, aliada à nitidez proporcionada pelas cordas paralelas”, destaca o documento.
Emoção
Fábio Marinho Alves informou que Carlos Gomes não poderia ter composto sua obra prima (“O Guarani”) no mesmo piano, visto que o instrumento foi construído posteriormente. Ele informou também que o endereço de entrega do piano confere com o da casa ocupada na época pelo mais famoso compositor de óperas do país, no Rio de Janeiro.
O músico se emociona ao contar a história, visto que o pai faleceu sem conhecê-la. “Tenho certeza que ele ficaria muito feliz”. Fábio afirma que, por enquanto, o piano permanecerá sob a guarda da família.