A ALMA ENCANTADORA DAS PRAÇAS

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Histórias e curiosidades das praças revelam fatos importantes que ajudam a construir a identidade da comunidade lavrense.

Conhecer uma cidade é andar por suas praças públicas. Alguém já disseque a paisagem é a consciência humana. Nesse estado de contemplação é que reconhecemos a nós e o mundo. Foi assim desde os séculos XVIII e XIX, quando os jardins foram inseridos nos projetos paisagísticos das grandes cidades.

A história de Lavras, cujo aniversário celebramos de 191 anos comemoramos este mês, se confunde com suas praças. Elas nos dão uma radiografia histórica, cultural, sociológica e política da cidade. Elas simbolizam o retrato preciso de uma era. As praças são como portais do tempo: mostram o passado e abrem novos caminhos para o futuro.

Inaugurado em 29 de novembro de 1908, o chamado Jardim Municipal, hoje Praça Dr. Augusto Silva (médico lavrense – 1845-1905), foi um marco arquitetônico. O projeto foi concebido por Belisário Macieira, responsável por plantar a muda que deu origem à icônica árvore Tipuana, que com seus galhos centenários é uma espécie de guardiã do local.

Segundo a engenheira florestal lavrense Alessandra Teixeira, autora do livro “Memórias & Praças Históricas de Lavras: Uma Paixão” (Editora AmoLer), nos seus primórdios, o jardim tinha regras de uso e horário de funcionamento. Com o tempo, ele receberia arborização, pavimentação, iluminação e novos projetos paisagísticos. Hoje, o complexo paisagístico inclui a Praça Leonardo Venerando Pereira.

A praça possui 25 espécies arbóreas diversificadas com registro de 108 exemplares, sendo 42 exemplares identificados como ipês diversos (brancos, amarelos, roxos e rosas). Já a Praça Leonardo Venerando Pereira tem 53 exemplares (árvores e palmeiras) com ipês variados.


Trilhos

Com a ebulição das transformações econômicas na cidade, surge, na década de 1940, a Praça Dr. José Esteves (médico lavrense – 1855- 1904), nome dado para homenagear um dos mais dignos profissionais da área, que atendia ricos e pobres sem distinção.

A praça, enquanto jardim público, dava suporte para o intenso tráfego de passageiros da Estação Ferroviária de Lavras. Ela era o símbolo da modernização do município, sendo ponto de referência para o sistema de bonde, que durante décadas foi o principal meio de transporte para a população.

A também chamada Praça da Estação era cercada pelo icônico Hotel Oeste, que abrigava inúmeros viajantes, além do importante conjunto arquitetônico da Estrada de Ferro Oeste de Minas, cuja estação ferroviária passou por inúmeras transformações, e posteriormente pela Igreja Nossa Senhora Auxiliadora.

Esse passado imponente pode ser exemplificado pela presença da locomotiva Baldwin 233, usada para o transporte de passageiros. O modelo funcionou entre 1929 e 1969. Ela foi colocada na praça no ano de 1997 e tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal em 2012.

A praça, como espaço aberto, também foi palco de um momento histórico: a visita do Presidente da República Getúlio Vargas (1882-1954). Ela aconteceu no dia 25 de fevereiro de 1931. Getúlio chegou em carro ferroviário especial à Estação da Oeste de Minas, onde foi saudado pelas autoridades locais e pela multidão que se acotovelava na Praça Dr. José Esteves, sendo posteriormente recebido na cidade.

 

 


Fonte

A terceira e última praça em destaque é a Praça Dr. José Jorge da Silva (advogado e pai do médico Dr. Augusto Silva – 1810-1880), cujas obras de construção tiveram início em 1899.

O espaço, denominado popularmente hoje como Praça Dr. Jorge, abrigava o chamado “Chafariz”, uma fonte de água usada pela população. Feita em bronze, a peça tinha o rosto de um leão. Infelizmente, a peça não mais existe, bem como um exemplar da árvore Tipuana, filha da famosa espécie existente na Praça Dr. Augusto Silva.

A praça é circundada por instituições importantes, como a Escola Municipal Dr. Álvaro Botelho (1934) e Instituto Presbiteriano Gammon (1892). Impossível não lembrar do casarão da Família Zagotta, demolido na década de 2000. Ele era o cartão postal daquela região.

O prédio de dois andares era constituído de impressionantes detalhes arquitetônicos, como pinturas em suas paredes internas, chafariz, janelões imponentes e outros detalhes que entraram para o imaginário de muitos lavrenses. Na parte de baixo do prédio, funcionava a loja da família.

Com isso, podemos dizer que a praça é um espaço imprescindível para a construção da identidade da comunidade lavrense. Podemos fazer nossas as palavras do poeta baiano Castro Alves (1847-1871), que certa vez escreveu: “A praça é do povo como o céu é do condor”.