Texto: Marco Aurélio Bissoli | Fotos: Lu Vilela
Bruno Costa acredita que a vida pode ser mais longa e criativa do que os breves 15 segundos de duração dos stories no Instagram. Fundador e gestor cultural da Mundo Cênico, ele sabe que o destino do ser humano é fundar novos mundos. A instituição, surgida em 2018, ocupa um vistoso casarão histórico de Perdões. O grupo começou com menos de 10 pessoas, mas hoje conta com uma escola de artes que oferece aulas de teatro, desenho, dança e música para 200 crianças.
As atividades são mantidas com a ajuda de uma rede de apoiadores, formada por voluntários, empresários e pais de alunos. Empresas locais são fundamentais na manutenção da instituição, assim como outras companhias, como Aliança Energia e Cemig, que, através das leis de incentivo federal e estadual, também contribuem com recursos para manter o projeto.
Mas nem tudo são flores no canteiro hoje florido de Bruno Costa. Depois de se formar no curso de Teatro da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), ele voltou para sua terra natal e se deparou com um cenário de poucas oportunidades. “Não havia cinema, nem teatro, mas os mesmos jovens que esperavam por uma empresa que daria emprego para todo mundo nesta cidade às margens da Rodovia Fernão Dias”, afirma à reportagem da Revista Elitte.
A Mundo Cênico surgia como um espaço de possibilidades. A inspiração para tanto, ele confessa marotamente, veio das caravanas de circos que aportavam por Perdões na sua infância. Tudo aquilo seduziu o olhar do menino que mirava o picadeiro.
Com doze patrimônios históricos tombados, dezenas de grupos de folias de reis e congadas, a cinquentenária Corporação Musical Lira Perdoense e o Museu Municipal Joaquim de Bastos Bandeira, Perdões, para o gestor e diretor, era um celeiro cultural que precisava ser valorizado e retratado.
Com um gesto de generosidade, Bruno Costa se permitiu olhar para si mesmo e sua cidade. Ele fez a self. “Essa rede de apoio da população provocou uma mudança. Ela não vai gerar tantos empregos, mas trata-se de uma evolução humana e social que é imensurável. As pessoas passam a olhar para si mesmas e para a comunidade”, relata o artista de 31 anos de idade.
Por isso, ele aposta em espetáculos que valorizem a identidade local, tendo como objetivo a formação de um público de teatro. “O que desejamos é mostrar o que está dentro de nós”.
A trupe já apresentou peças em Ouro Preto, Mariana, Diamantina, São João del-Rei e Belo Horizonte. Mas, afinal, o que o teatro tem a oferecer para a geração milênio, onde a vida parece caber apenas nos 15 segundos dos stories?
Para Bruno Costa, o mundo teatral é risco, poesia e imaginação. “A tecnologia afasta quem nós somos, o teatro, ao contrário, nos aproxima de nós mesmos. Vai ter um momento que a sociedade vai precisar voltar para casa. Essa casa somos nós mesmos”, avalia.
Ele defende que políticas públicas voltadas para o teatro são fundamentais para mais pessoas travarem contato com esse universo. “Somos seres criadores, não nascemos só para construir famílias, conquistar a casa ou ter o carro do ano. Nascemos para criar novos mundos. Deus nos deu a capacidade de mudar as coisas. É preciso que as pessoas descubram o teatro”, conclui Bruno Costa.