De volta ao começo

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Dramaturga Sílvia Gomez celebra 20 anos de carreira premiada. Filha de casal de lavrenses, ela passa a limpo sua trajetória.

Ela conquistou a cena teatral paulista, mas foi em Lavras que Silvia Gomez começou a pensar e olhar para as relações humanas, base de todo o seu trabalho. Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2001, ela também estudou teatro em Belo Horizonte, onde nasceu em 1977. Radicada em São Paulo desde 2001, ela atua como dramaturga, roteirista e jornalista. Entre 2003 e 2011, conviveu com Antunes Filho (1929-2019), um dos maiores diretores brasileiros de teatro do século XX, fundador do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do Sesc (Serviço Social do Comércio) na capital paulista. “Eu aprendi muito com ele. Eu sempre o honro em tudo que falo e faço”, diz.

Silvia Gomez é autora de sete peças teatrais: “O céu cinco minutos antes da tempestade” (2008), “O amor e outros estranhos rumores” (2013), “Mantenha fora do alcance do bebê” (2015), “Marte, você está aí?” (2017), “Neste mundo louco, nesta noite brilhante” (2019), “A Árvore” (2021), e a mais recente “Partida de Vôlei à Sombra do Vulcão” (2021). Os espetáculos contaram com a presença de atores consagrados, como Débora Falabella, Alessandra Negrini e Yara de Novaes. A dramaturga celebrou 20 anos de carreira no ano passado.

Em 2013, foi uma das dramaturgas convidadas pelo governo brasileiro para a Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha. Desde 2017, ela dá aulas de dramaturgia em instituições, como o CPT- SESC e SP Escola de Teatro. Em 2020, foi convidada a coordenar o Núcleo de Dramaturgia SESI-SP. Com a peça “Mantenha fora do alcance do bebê”, foi vencedora dos prêmios de melhor dramaturgia pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e Aplauso Brasil, em 2015, além de ter sido indicada ao Prêmio Shell. Já teve suas peças encenadas na Bolívia, em Londres e na Cidade do México.

Apesar de todos os impactos negativos da pandemia no setor artístico nacional, Silvia Gomez acredita que o teatro soube se reinventar nesse período de crise. “Isso mostrou a necessidade que a gente tem de espaço, elaboração e diálogo”, afirma a dramaturga Silvia Gomez.

Origens

Silvia Gomez passou a infância e adolescência em Lavras. As lembranças da cidade estão vivas em sua memória. “Lavras é minha casa de formação. O fato de crescer numa cidade pequena me ajudou a perceber a importância de observar o comportamento humano. Isso é o que a dramaturgia faz”. Ela fala com alegria dos momentos vividos no Instituto Presbiteriano Gammon e no Lavras Tênis Clube (LTC).

A dramaturga é filha do médico e compositor lavrense Eugenio Gomez e da psicóloga Carmen Miriam, e irmã de Débora Gomez, atriz com muitos trabalhos no cinema, teatro e TV. É também sobrinha da diretora e atriz mineira Yara de Novaes. Influenciada por este universo artístico, ela pôde fazer suas escolhas pessoais e profissionais.

Silvia Gomez cita autores caros à sua formação, como os dramaturgos Samuel Beckett (1906 – 1989), Luigi Pirandello (1867 – 1936) e Harold Pinter (1930 – 2008).

“Eu me reconheci no Teatro do Absurdo. É o modo de olhar para o mundo com estranhamento. É o lugar que instaura uma outra camada na realidade. Isso faz com que ficamos atônitos e surpresos, despertando em nós um olhar crítico para com o real”.

A atriz Alessandra Negrini, protagonista da montagem de “A Árvore”. Baseado em texto da autora, projeto mesclou teatro e cinema.

Ela se diz desolada com o Brasil atual, marcado por mais de 660 mil mortes provocadas pela Covid-19 e 20 milhões de pessoas que passam fome. “A gente precisa se posicionar contra essa política de destruição da cultura e do meio ambiente. Precisamos da experiência humana profunda. É isso o que o teatro faz. Isso nasce do convívio democrático e civilizatório”, finaliza a autora.

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