A história do professor e museólogo lavrense Ângelo Alberto de Moura Delphim
O texto que o leitor tem em mãos talvez seja uma das últimas entrevistas concedidas pelo professor e museólogo lavrense Ângelo Alberto de Moura Delphim. Falecido no último dia 15 de abril, aos 83 anos, esse registro precioso, feito no ano passado, fica para o leitor como uma homenagem de toda a equipe da Revista Elitte ao legado do homem que, como poucos, soube valorizar, difundir e proteger o patrimônio cultural de nossa cidade.
Com 1,90m de altura, Ângelo Delphim faz vulto, em tamanho e importância, no mapa da cultura lavrense, há décadas.
Filho do casal Ângelo Constantino Delfino e Antonieta Maia Delfino, ele cresceu num casarão icônico da Rua Sant’Ana, ao lado dos irmãos Antonio Eduardo (in memoriam), Maria Antonieta, Cármen Sílvia (in memoriam), Carlos Fernando e Vera Lúcia.
Quando da entrevista, ele lembrou com alegria de sua passagem pelo Instituto Presbiteriano Gammon, onde se formou, sendo amigo de uma geração privilegiada, formada por nomes, como Dorinha Guimarães, Maria Amélia Bueno, Maria Cássia Terra Mendes, Cármen Lúcia Lasmar, Georgete Mansur, Maria Vilma Carvalho, Elza Expedito, dentre outras.
Formou-se em Letras na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFI, atual Unilavras), em 1972. Em 1987, obteve o título de museólogo, através da Lei Sarney. Deu aulas no Colégio Nossa Senhora Aparecida, em Lavras, e no Ginásio Secundário, em Ijaci.
Desde pequeno, ele requentou a Sociedade dos Amigos de Lavras (SAL), embrião do que mais tarde seria o Museu de Lavras. A instituição foi criada em 1983 pelo seu idealizador, jornalista Sílvio do Amaral Moreira (1912-1994), o “Bi Moreira”, que passou a dar nome ao local.
As primeiras peças do seu acervo foram acondicionadas no prédio da Câmara Municipal de Lavras e posteriormente nas dependências do Instituto Gammon, sendo depois levadas para o lugar, onde hoje se encontra instalada a instituição, no Câmpus Histórico da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Ângelo Delphim trabalhou no Museu Bi Moreira por 30 anos, sendo de 1997 a 2006, o coordenador de Cultura da universidade. Foi um espectador privilegiado da instituição, que mantém um acervo de 5 mil peças catalogadas. O museu foi fechado em 2011, para a elaboração de um novo plano museológico. “O museu tem um valor muito grande. A história da cidade está toda ali. Muitas pesquisas e livros nasceram a partir do acervo dele”, afirmava Ângelo na ocasião.
O Museu Bi Moreira também serviu de referência para que outras cidades da região criassem também os seus museus, como é o caso de Perdões, Paraguaçu, Poços de Caldas, Bom Sucesso, e o de Venda Nova, em Belo Horizonte.
Horizontes
Ângelo Delphim não parava de criar. Foi ele o idealizador e um dos produtores, ao lado do jornalista Eduardo Cicarelli e do historiador Geovani Németh-Torres, do documentário “História do Cinema de Lavras e outros fatos poucos conhecidos”. O filme foi realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, trazendo fatos históricos sobre a Sétima Arte. Seu último projeto foi a criação do Museu Rural de Lavras, que será instalado no Instituto Gammon. Dizia o museólogo que “o espaço é simbólico, pois abriga o primeiro silo aéreo de alvenaria de Minas Gerais”. O projeto contará com mais de 200 peças que traçam um amplo panorama do universo da vida rural na cidade e região.
“A vida é felicidade. Sou um homem de sorte por ter nascido no Brasil, em Minas Gerais e em Lavras. Fiz muitos amigos por onde passei. Tudo isso é felicidade”, dizia Ângelo Delphim, ao final da entrevista.
