Entenda como se formam as geadas muito comuns nesta época do ano e que podem trazer grandes prejuízos para a agricultura.
Amanhecer com paisagens esbranquiçadas e pouca visibilidade é algo comum durante os meses mais frios do ano, e as chamadas geadas são um fenômeno atmosférico de baixa temperatura, consideradas as grandes vilãs das plantações. Mas, afinal, como se formam as geadas?
Do total de água existente em nosso planeta, apenas 0,001% estão na atmosfera, principalmente em suas camadas mais baixas. Segundo o meteorologista e professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (Eng/Ufla), Marcelo Vieira da Silva Filho, quanto maior a temperatura do ar, maior será sua capacidade de reter vapor d’água e quanto menor a temperatura, menor capacidade, e portanto, sendo facilmente saturada, que é justamente quando se atinge o ponto de orvalho, condensando aquela água em cima da vegetação.
De acordo com o meteorologista, a geada se forma quando este fenômeno ocorre em temperaturas muito baixas, entre 5°C e 4°C, com a ausência de nuvens, assim o orvalho se congela. “Para a geada acontecer, é preciso que a temperatura ali próxima da superfície esteja literalmente perto de zero. Assim, a água que já está ali condensada na superfície, aliada a uma baixa temperatura, congela, formando uma fina camada de gelo em cima da planta, sendo uma grande preocupação para os agricultores”, diz.
As geadas provocam a morte das plantas ou de suas partes, congelando os tecidos vegetais das folhas, caule, frutos, ramos. Muitas plantas de folhas mais frágeis queimam e ficam marrons ou negras em temperaturas abaixo de 5°C. Para algumas culturas, como no caso das hortaliças e dos tomates, isso ocorre a 4°C, já para o café, por exemplo, a suscetibilidade às geadas ocorre a 2°C, ou seja, isso varia de acordo com a espécie e de como a planta está fisiologicamente no momento da ocorrência.
Tipos de geadas: O meteorologista ainda esclarece que há dois tipos de geadas. A mais conhecida pelos mineiros, que é caracterizada pela formação de cristais de gelo na superfície das plantas, conferindo uma coloração esbranquiçada na vegetação, é chamada de geada branca. “A geada branca está associada àqueles dias que não têm muita nuvem no céu, e calmaria (ventos fracos). Nela se forma aquela camada de gelo bem fininha que as pessoas gostam de tirar foto. Durante o dia, o gelo derrete, e se a planta estiver bem estruturada consegue até sobreviver”, afirma.
Já a geada negra é a mais agressiva para a agricultura, sendo um fenômeno propenso de n ocorrer no Sul do Brasil devido à sua localização e maior incidência de frentes frias. Além das baixas temperaturas e do ar seco, nela há ventos moderados a fortes, e o principal, ela pode cair em qualquer período do dia. “A geada negra vai acontecer devido à passagem de frentes frias muito intensas que inclusive chegam a congelar a seiva e as raízes da planta, comprometendo toda a plantação”, explica Marcelo.
Proteção contra as geadas: Na Ufla, diversas pesquisas são realizadas para minimizar os efeitos das geadas, principalmente em lavouras de alta rentabilidade como o cafeeiro. Uma delas adaptou uma máquina nebulizadora, utilizada para a aplicação de produtos de proteção fito-domissanitário, para criar uma neblina artificial feita com pequenas gotas de óleo mineral, diesel ou biodiesel gerados no processo, impedindo que a geada atinja o cafezal. “Isso ajuda a manter o calor junto à cultura e impede a concentração do ar frio que ocorre porque a energia acumulada pelos corpos vem dos raios solares e tende a diminuir com o passar do dia, desse modo, a folha da planta esfria antes do que o ar atmosférico”, enfatiza o professor de Agrometeorologia e de Energia na Agricultura, Pedro Castro Neto, da Escola de Engenharia (EENG). A nebulização artificial vem então para impedir que essa radiação se perca no espaço. Realizada durante a madrugada de geada, seu início deve ocorrer quando a temperatura no ponto mais baixo da lavoura chega a 2°C, para evitar danos às folhas.
É possível prever a ocorrência de geadas com antecedência de horas e dias, já que quando temos a proximidade de uma nova frente fria, os meteorologistas já alertam para quedas bruscas de temperatura. Embora, mesmo com todos os cuidados de precaução, as plantas possam sofrer danos com as baixas temperaturas, o especialista lembra que “uma lavoura bem cuidada resiste mais e reage melhor aos efeitos da geada”.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nete ano já foram registradas geadas em lavouras de milho, feijão e café nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais e novas ocorrências não estão descartadas.
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